quarta-feira, 29 de julho de 2009

TENDES FÉ



Quase meia noite, rua do centro da cidade.
De dia quase um formigueiro.
De noite apenas uns e outros que vagam.
Uns apressados,
Outros, como que fugindo de algo
E outros que se arrastam em pé,
Sem pressa alguma.
Até parece que a vida parou.
Parou de jorrar o encanto,
Parou em qualquer canto,

Acabou a esperança, seja adulto,
Ou seja criança.
Não há mais o que esperar,
Deixa apenas o tempo passar.

Na virada de uma esquina,
Um susto.
Um vulto,
Que sobre sua própria sombra
Se inclina.

Um homem,
Um jovem, talvez um adolecente.
Como saber?
Se o jovem fica velho,
Se a criança amadurece
Como fruta apodrecida
Sujeita a cair antes do tempo.
Ou bicada por um bicho predador.

Penso que era um jovem.
Pele negra, ou era sujeira?
Cabelo encarapinhado.
Barba grande e de poucos fios.
Olhar longe.
Até parece querer ver o horizonte.
Entre o vulto dos prédios escuros,
Talvez abandonados,
Outros coloridos de luzes
Auto piscantes.

Ele ali.
Roupas sujas,
Rasgadas,
Braços soltos.
Mãos juntas para baixo,
Talvez numa prece desconsolada,
Uma súplica abandonada.

Algo mais me chama a atenção,
E me estranha,
É o sorriso que nos lábios se desenha
Um sorriso,
Ou era o quê?
Quisera que o fosse,
Mesmo que não soubesse o porquê.

Um sorriso sempre faz bem
Pra quem o dá e pra quem o vê.
Tristeza é se não o for,
Talvez era pra ser,
Mas que não conseguiu sair,
Passou como tudo ali.
Um sorriso que ficou na face,
Porque o coração não tem mais motivos
Para alegrar-se.

Alegrar-se como, se nem a calçada,
Fria e fétida lhe pertence.
Nada tem, nada sabe, nada deseja.
Cansou de ter vontades.

Quem sou eu?
É a pergunta que cala
Quem serei eu?
É o desejo contido.
Quem era eu?
É o passado perdido

És um pobre homem,
Mas não és o único.
Outros já existiram,
Outros tantos vão existir.

És um ser, apesar de tudo.

És uma criatura de Deus
E só por isso ser
Eu te digo:
Ainda há esperança...

Eu te explico:
Pois que até uma árvore que se corta.


Ou que queimada é,
Renasce das cinzas
E do tronco cortado
Sai um broto.
Tendes fé.

Autor: Orlando S. Cirqueira
2009




“Nos galhos secos de uma árvore qualquer
Onde ninguém jamais pudesse imaginar.
O Criador vê uma flor a brotar.



Olhai, olhai, olhai, os lírios cresceram nos campos.
E o Senhor os têm alimentados com muita alegria.
Olhai, Olhai, Olhai, os lírios cresceram nos campos”


A.D.

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